domingo, 20 de janeiro de 2008

Beth, cadê a fotografia???


Adoro cozinhar e sou louca por uma panelinha nova. Assim, por muito tempo pensei em comprar uma espagueteira, mas adiei porque a coisa é grande e muito sem jeito pra se guardar. Mas, uma vez dentro da loja de fábrica da Nigro, aqueles objetos de desejo maravilhosos todos brilhando na minha frente, não resisti e trouxe a talzinha pra casa.


Pra quem não sabe... a tampa tem furinhos pra escorrer o macarrão e a idéia é que você vire o caldeirão na pia, segurando a tampa através de duas abas nas laterais da panela, que prometem eficiência. Só prometem...quente e pesado, a gente vacila e joga todo o macarrão dentro da pia.
Aconteceu, mas não foi um grande problema, eu tinha outro pacote de macarrão e, ainda que não tivesse, após trinta anos de fogão, tendo meus dotes culinários reconhecidos, posso até eventualmente dizer pro pessoal que a comida não saiu e escalar um deles pra comprar pão e frios.


A Beth coitadinha, não podia... recém casada, em férias na praia, o Sérgio pronto pra avaliar a competência culinária da excelente fotógrafa... foi ela pro fogão preparar um belo nhoque... acho que a Beth não sabia que nhoques, a gente tira um por um da fervura com uma escumadeira conforme vão subindo...o fato é que bloft ... caiu tudo dentro da pia, devidamente tampada e cheia de água com detergente.
O que fazer???? Recém casadas têm que fazer bonito! Então ela recolheu tudo, passou uma aguinha, colocou o molho e serviu.
Diante da cara apavorada do marido ao provar, achou melhor contar a verdade, considerando que um pequeno acidente até pode ser esquecido, mas comida intragável não tem perdão!

quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

O conto de mistério que virou comédia

Ela era uma moça estudiosa, delicada, tímida, um tanto ingênua e é por isso que resolvi chamá-la de Angélica. Depois de um longo namoro que deu em nada, conheceu um rapaz muito interessante, educado, culto e de conversa especialmente agradável. Tinham os mesmos gostos e interesses, o namoro foi inevitável. Tudo perfeito, não fosse um pequeno mistério: o moço, ainda que muito falante, nada dizia sobre sua profissão e, do pouco que ela soube, só deu pra supor, mais do que concluir, que ele era oficial do Exército e trabalhava num daqueles quartéis famosos pelas torturas a presos políticos... corriam os trágicos anos da ditadura militar.

Não foi fácil praquela menina engajada, leitora de todos os textos socialistas, conviver com a incerteza, mas como de concreto ela nada sabia, foi levando: apaixonada e assustada. Um dia o rapaz sumiu sem deixar rastro, pra reaparecer dois meses depois ainda mais misterioso, magro e transtornado. Voltou só pra dizer que precisava esconder-se, sumir pra sempre e que convinha ela não soubesse do paradeiro dele... nunca mais deu notícia.

Eu só conheci essa história muito recentemente e assim mesmo por conta de uma série de coincidências, num certo momento conversávamos um assunto que permitiu a ela pedir que eu a ajudasse a encontrá-lo. O fato é que Angélica passou mais de trinta anos procurando notícia do rapaz. Outros amores, trabalho, filhos... o mistério do passado não pesou a ponto de interferir de alguma forma, mas nunca foi esquecido. Quem era? O que fez? Compactuou mesmo com tudo que ela abominava? Ou teve que desaparecer justamente por não compactuar? Por mais de trinta anos, ela leu todos os livros e textos referentes àquele período da nossa história, sempre em busca de uma palavra, uma citação, ou até de alguma descrição que o identificasse aos seus olhos atentos.

Foi aí que eu entrei nessa história que prometia um bom conto de mistério!
Tentei ajudar a encontrá-lo, procurei em vários sites, vi todas as listas, denúncias e nada!
Um dia ela abriu o jornal e deu com o nome dele impresso, bem ali ... no obituário!!! Não, ele não havia morrido!! Comunicava o falecimento da mulher e deixava um endereço eletrônico pras pessoas poderem enviar seus pêsames.

Naquela altura eu achei que o segredo seria revelado - e ele poderia ser terrível! - ou talvez visse surgir uma história de amor... na pior das hipóteses leria os lances emocionantes de um reencontro de amigos que teriam muito pra dizer um ao outro, mas jamais imaginei que acompanharia uma comédia ridícula e foi o que aconteceu.

Parece que do rapaz cheio de qualidades sobrou só a cultura, e ainda assim porque não há como perder, no mais, transformou-se num empresário inconformado com a velhice, chatíssimo, atrevido e um tanto babão! O mistério ele não esclareceu, ao contrário, tentou criar outros novos, como sempre desaparecendo por algum tempo e voltando cheio de meias palavras... exagerou e ficou tão chato que o mistério acabou enterrado junto com a lembrança dele, não no passado, mas no esquecimento mesmo! Reservada e até um pouco tímida ela ainda é, mas de bobinha não tem mais nada!

sexta-feira, 11 de janeiro de 2008

Coisas?

Minha mãe dizia sempre que vestida de noiva, sob o meu metro e meio, com certeza eu pareceria estar pronta pra primeira comunhão. Já era um bom motivo preu não sonhar com o casamento religioso. Além disso, as moças da minha época e meio não ligavam pressas coisas. Éramos mesmo, radicalmente contra!
Assim, o Custódio e eu, decidimos pelo casamento civil pra não matar nossas mães de tristeza e fui logo avisando: cerimônia religiosa??? De jeito nenhum. Um pouco de choro materno, a compreensão do meu pai, a inestimável ajuda do meu irmão, minha teimosia e marcamos: civil e festa!!!

Eu era louca pela tia Nívia, todos éramos, e prometi a ela porque estava doente, que receberíamos a bênção de um padre, pretendendo voltar ao assunto quando melhorasse. Mas isso não aconteceu, ela faleceu no dia 26 de dezembro, 19 antes da data marcada.

Não tive coragem pra descumprir a promessa... assim, pedi à minha futura sogra que providenciasse a coisa toda, com as seguintes recomendações: casamento sem público e de manhã, bem cedo.

Primeiro encaramos o curso de noivos, uma verdadeira tortura, mas não vai caber aqui, deixo pra outra ocasião.

Bem, alguns dias antes do sábado marcado, o pároco da Igreja da Lapa, que minha sogra freqüentava o onde havia marcado a cerimônia, nos chamou pra uma conversa.
Não sei se por estranhar a urgência ou quem sabe, o horário, o fato é que encontramos o doce servo de Jesus, armado contra nós. Foi logo perguntando se iríamos nos casar contra a nossa vontade ou de nossos pais... Muito indignado, não nos deixou explicar e vociferava feito louco, até que disse: “Por que pretendem se casar? Vocês estão pensando que casamento é brincadeira???” Dirigindo-se ao Custódio: “você meu filho, é um homem lindo” e pra mim: “e você, menina, não é lá essas coisas. Quanto tempo você acha que ele vai ficar com você?”
Não respondi nem ouvi mais nada, me levantei e saí pelo corredor principal, nariz empinado e nem olhei pra trás, não era preciso, podia ouvir os passos do Custódio logo atrás de mim.
O que a Didi, minha sogra, disse e fez dez minutos depois, nunca nos contou, por mais que implorássemos, levou com ela. O fato é que no sábado, tinha outro padre nos esperando às oito da manhã, mesmo porque eu havia dito que sairia de novo, pelo mesmo corredor principal, caso encontrasse o primeiro por lá.
Sentadinha na sacristia, porque desfilar pela igreja eu não ia mesmo, escutei o padre dando as orientações pro noivo e acrescentando alguma coisa como: “Quando a sua noiva chegar, vou dizer a ela que...” Interrompi: “Olha aqui, se o senhor está esperando uma NOIVA, vai ser difícil, mas se eu sirvo, pode falar.”
Felizmente, ele riu.

E foi assim que fomos pro altar de uma igreja lotada de gente sonada que, não tendo mais aonde ir pra prestigiar o enlace, estava lá.
O que será que o santo padre quis dizer com “coisas” que eu não era, que o Custódio nas últimas três décadas, não reparou? È que na próxima segunda feira, dia 14, faz trinta anos que isso tudo aconteceu.

terça-feira, 1 de janeiro de 2008

Lição


Em outubro de 2006, comecinho do mês, final de tarde... sofri um acidente doméstico bastante sério: queimei gravemente a mão direita e o pé esquerdo. Vi, de cara, que se ficasse em casa não daria certo! Meus três homens, dos quais eu passei a depender pra absolutamente tudo, ficaram atarapalhadíssimos! Pior, entendi que, trocar curativos diariamente no pronto socorro aqui, se não me rendesse uma infecção brava, com certeza haveria de me levar a um bom tratamento psicológico!! Não sendo um caso urgente, eu era colocada logo na entrada do hospital, numa cadeira de rodas, presenciando a chegada de todos os acidentados e doentes, até que a coisa ficasse calma pra que eu fosse atendida.
Bem, a “convite” da Nívia (na verdade, muito mais uma ordem do que um convite) fui levada pra Araraquara, pra casa da Lígia.

Obrigada Nívia, por ter procurado feito leoa, um médico que cuidasse de mim e encontrado a Naila que me deu atenção e carinho, muito além da obrigação profissional. Mil vezes obrigada Naila.
Lígia e Cleide, obrigada por terem colocado à minha disposição a casa e vocês mesmas: quando uma me dava banho e a melhor comida do mundo e a outra me carregava, dia sim, dia não, toda ensacada (hehe), até a clínica pros curativos e a conversinha boa da Naila. Obrigada Ednaldo, que nos “dias não”, ia até em casa (Lígia, tomei posse!) e ainda lavava as feridas, cuidadosamente, com água e sabão, antes de fazer os curativos.
Obrigada aos meus três grandes amores: Custódio, Plínio e Fausto; minha mãe e a Terezinha, que se revezaram nas visitas de final de semana
Agradeço ainda a todo o pessoal de apoio: Hugo e Diogo que, se incomodei, não deixaram que eu soubesse; Daniela e Fabiana que nunca deixaram de levar graça, sorriso e os filhos: Paula, Renata, Fernanda e Roberto pra me distrair.
Meu muito obrigada também aos amigos queridos que ligaram pra saber notícia, sempre com uma palavrinha de apoio.
Mas o mais especial dos agradecimentos vai pro Alexandre que foi meu companheiro constante, bastava que eu me mexesse pra que ele dissesse: “Popará Helô, EU cuido de você” e cuidava mesmo, além de passar o dia me oferecendo bolachas, iogurtes e desenhos animados, na flor dos seus seis anos.
Sem o carinho de cada um de vocês os 30/35 dias inicialmente previstos pra que eu tivesse alta, não teriam se transformado em 17. Atenção e conversa gostosa, muito mais do que a minha capacidade de cicatrização, foram os responsáveis pela cura antecipada.

Neste primeiro do novo ano, desejo a todos os meus amigos muita saúde, paz e alegria e que cada um de vocês possa contar sempre com essa espécie de carinho raro, capaz de transformar uma experiência dolorosa, numa lição de amor.