terça-feira, 11 de dezembro de 2007

O canto do Urutau


Certa manhã, mal saí da cama e o Custódio me chamou no quintal pra ver um estranho pássaro pousado lá, bem na ponta de uma estaca de madeira que já tinha servido como suporte do varal onde se agarrava um lindo pé de maracujá que o vizinho...ah! O vizinho... mas essa é outra historinha e fica pra depois.
Lá estava ele, imóvel como uma estátua e assim permanecia enquanto o tempo passava. Vim pro Google e soube: Urutau. A memória fervilhando, entre lembranças querendo surgir, tive certeza, havia um deles no Sítio do Pica Pau Amarelo!
Mas não me lembrei de tudo que havia pra lembrar... agora eu sei...Lembra Nívia? Lígia?
“Urutau que tristeza a tua, por querer, por amar a lua... Urutau quanta gente existe, como tu que também é triste... Urutau chorou, chorou...”
Li tudo que encontrei sobre o bichinho, horas a fio e ele lá, parado!
O Urutau (ave fantasma ou mãe da lua) é um animal noturno de características e comportamento muito particulares, que fazem dele objeto de inúmeras lendas interessantes e lindas (link pra elas e mais informação, na lista ao lado) e tão difícil de ser visto que, soube, as pessoas costumam chamar reportagem de televisão quando dão com um pela frente nos centros urbanos. Não que se trate de uma ave em extinção, o difícil é percebê-lo porque ele usa um incrível disfarce que o torna parte do toco ou galho, no qual escolhe passar o dia, aos nossos olhos. Mesmo assim, achamos um exagero chamar a imprensa e ficamos observando. Ele confia tanto no seu mimetismo que o vimos continuar imóvel, ainda que pardais e sanhaços pousassem sobre sua cabeça, é que possui duas fendas sobre as pálpebras que permitem a ele observar tudo que passa, mantendo os olhos fechados.
Soubemos também que o Urutau acorda e levanta vôo quando anoitece e que, só nesse momento, senhor de um lindo canto angustiado que lembra um lamento humano, ele vocaliza. Ora! Não podíamos perder, mesmo porque sabíamos que ele nunca voltaria.
Foi começar a escurecer e lá estávamos nós, bem no meio do quintal, sentados em banquinhos de madeira, daqueles muito desconfortáveis e nada anatômicos, olhos pra cima, esperando.... a noite caiu completamente e continuávamos lá: ele e nós. Acontece que a luz que vinha do poste de iluminação da rua, incidia bem sobre ele e, com certeza, confundiu o pobrezinho.
Desisti de madrugada, duas horas... o Custódio, não sei até quando agüentou, mas sei que também não ouviu o canto. Quando acordamos, ele não estava mais lá, mas foi extremamente dolorido verificar, completamente travados, mal dava pra mexermos a cabeça.
A foto - to com vergonha Beth, mas eu ainda não tinha feito o curso – fui eu que tirei.
Quanto ao canto... clique aqui para ouvi-lo, da única forma que o Custódio e eu também conseguimos ... gravado.

3 comentários:

Anônimo disse...

Adorei essa história e o canto do Urutau também. Eu não conhecia.
Olha, quase dá pra duvidar que o bicho está lá em cima do toco de madeira...

Anônimo disse...

Obrigada Heloisa por sua contribuição sonora.Esses dias ouvi um canto noturno e fiquei intrigada.Após pesquisar, achei q poderia ser o tal Urutau e depois de ouvir o canto confirmei q era o próprio,fiquei super feliz com a constatação.Apesar de não te-lo visto ,pelo seu cantar sei q esteve próximo.Obrigada!!!!!!Abraços sonoros!!!!!!

Anônimo disse...

Hoje tem um enorme urutau cinza escuro em uma das grandes sibipirunas de minha praça. Está lá já faz uns cinco dias, no mesmo pau, na mesma posição. Acho que êle não sai de lá nem pra ir ao banheiro. O jardineiro o descobriu, porque a força aérea local, composta por ben tivis, sairas, tejos,assanhaços e outros, o confundiram com um gavião e realizavam um ataque coletivo sobre o inincomodável alienígena. Mas enfim, por coincidencia descobri que o bicho sai do pau, no pau, quando o dia já não é mais dia, e quando a noite ainda não é noite. No outro dia, ou seria na outra noite?, anotei o horário da decolagem, isto pra nunca mais ser deixado no toco pelo outro urutau; pois de tanto ficar com a cara pra cima vigiando o bicho, pra quem passava na rua em frente, parecia que eu tinha ficado louco já se fazendo imóvel e parado com o meu bico pra cima. Este fenômeno nas praças de Ribeirão Preto, chama-se Sindrome de Urutau. Todo ano, um outro pássaro chamado príncipe,migratório, fica se exibindo por aqui por uns 6 meses.
Um abraço aos distintos leitores, pois acabo de sair da pracinha, e meu pescoço está doendo demais. Fui!...alias..Voei!!
Rômulo Urutau da Silva
rbessa27@hotmail.com